O joelho é uma das articulações mais vulneráveis a lesões em suas estruturas internas, incluindo ligamentos, meniscos e, particularmente, a cartilagem. Infelizmente, as lesões da cartilagem do joelho representam um desafio significativo na medicina contemporânea devido à sua incapacidade de cicatrizar adequadamente.
Para compreender por que essas lesões são tão problemáticas, é essencial entender a natureza da cartilagem articular do joelho.
O que é a Cartilagem do Joelho?
A cartilagem do joelho é um tecido que reveste as superfícies dos ossos, atuando como um amortecedor que absorve o impacto e distribui-o uniformemente, evitando a concentração excessiva de pressão em um único ponto da articulação. Este tecido é considerado avascular, ou seja, não possui suprimento sanguíneo, sendo composto por poucas células e uma matriz extracelular rica em substância fundamental.
A cartilagem do joelho é constituída por quatro camadas e contém uma quantidade significativa de água em sua composição (geralmente de 66% a 80%). As fibras de colágeno, principalmente do tipo II, estão dispostas paralelamente à superfície articular, formando uma estrutura que serve como uma “pele” e ajuda na distribuição das forças de compressão. Em camadas mais profundas, as fibras colágenas se organizam perpendicularmente à superfície, ancorando a cartilagem ao osso. Existem também fibras dispostas aleatoriamente nas zonas intermediárias, que resistem a forças de tensão.
Destruição e Reparo da Cartilagem no Cotidiano
Cada vez que realizamos atividades físicas, ocorre uma destruição parcial da matriz da cartilagem, assim como acontece com os ossos, músculos e tendões. Durante o período de descanso, ocorre a reparação desses tecidos danificados.
Esse processo envolve a liberação de enzimas de comunicação pelos condrócitos, células da cartilagem, que interagem com os glóbulos brancos, como as interleucinas, para promover a remodelação necessária. Quando a destruição e a reparação estão equilibradas, temos um estado de homeostase. No entanto, se a destruição superar a reparação, pode ocorrer uma condição conhecida como condropatia.
A interleucina-1 (IL-1), a interleucina-6 (IL-6) e o fator de necrose tumoral alfa (FNT-α) são as principais substâncias que estimulam a degradação da matriz da cartilagem do joelho. Estudos recentes indicam que essas enzimas estão mais elevadas em pessoas sedentárias e com excesso de peso.
Por outro lado, as interleucinas 4 e 10 têm um efeito protetor e estimulam a formação de tecido cartilaginoso. Esses processos são conhecidos como condro-anabolismo.
Principais Causas de Lesões na Cartilagem do Joelho
As lesões na cartilagem do joelho podem ocorrer de várias maneiras:
- Microtraumas de Repetição: Uso inadequado da articulação e treinamento excessivo, sem recuperação adequada, podem causar fissuras e destruição gradual da cartilagem, levando a uma reação inflamatória crônica.
- Traumas Agudos: Entorses e contusões no joelho, comuns em esportes de contato, podem resultar em arrancamento de fragmentos de cartilagem, criando crateras. Essas lesões podem estar associadas a danos em outras estruturas, como o ligamento cruzado anterior ou os meniscos.
- Crianças e Adolescentes: Em casos de crianças e adolescentes, as causas das lesões na cartilagem do joelho podem ser mais complexas e ainda não totalmente compreendidas pela ciência, resultando em condições como as osteocondrites dissecantes.
Sintomas de Lesões na Cartilagem do Joelho
Os sintomas comuns de lesões na cartilagem do joelho incluem:
- Dor na Articulação: Dor em repouso e durante o movimento.
- Inchaço: Ocorre devido à inflamação resultante da lesão da cartilagem, levando ao acúmulo de líquido sinovial na articulação, conhecido como derrame articular.
- Rigidez Articular: Dificuldade em mover o joelho normalmente.
- Estalidos: Ruídos articulares audíveis durante o movimento.
- Bloqueio Articular: Incapacidade de dobrar ou esticar completamente o joelho.
- Atrofia Muscular: Diminuição da massa muscular na coxa devido à inibição do músculo quadríceps como mecanismo de proteção.
- Limitações nas Atividades Diárias: Dificuldade em realizar tarefas comuns, como caminhar, agachar, subir e descer escadas.
- Sensação de Piora Diária: Fadiga muscular e aumento do inchaço no final do dia.
Diagnóstico de Lesão na Cartilagem do Joelho
O diagnóstico de lesões na cartilagem do joelho começa com uma análise da história do paciente, incluindo informações sobre lesões anteriores e sintomas atuais. Um exame físico é conduzido para avaliar a amplitude de movimento, dor e instabilidade do joelho.
Para confirmar a presença de lesões e determinar sua extensão, os seguintes métodos diagnósticos podem ser utilizados:
- Ressonância Magnética do Joelho: Este exame é considerado o padrão-ouro para avaliar lesões na cartilagem do joelho. Ele permite visualizar o tamanho, a localização e a extensão das lesões, bem como qualquer comprometimento do osso subjacente.
- Radiografias: Embora as radiografias não revelem diretamente a cartilagem, elas podem ajudar a identificar alterações no osso subjacente, como osteoartrite.
- Artroscopia: Um procedimento cirúrgico no qual um pequeno dispositivo com câmera é inserido no joelho para uma visualização direta das estruturas internas. Isso pode ser usado para confirmar e tratar lesões da cartilagem.
- Punção Articular (Artrocentese): Em casos de derrame articular significativo, pode ser realizada uma punção para coletar líquido sinovial para análise laboratorial.
Tratamento de Lesões na Cartilagem do Joelho
O tratamento das lesões na cartilagem do joelho depende de vários fatores, incluindo a extensão da lesão, a idade do paciente e o nível de atividade física. Existem abordagens cirúrgicas e não cirúrgicas disponíveis:
Tratamento Não Cirúrgico:
- Fisioterapia: Iniciada precocemente, a fisioterapia visa reduzir a dor, o inchaço e a atrofia muscular, além de melhorar a amplitude de movimento e a função do joelho.
- Medicamentos: Analgésicos e anti-inflamatórios podem ser prescritos para controlar a dor e a inflamação.
- Infiltração com Ácido Hialurônico: Este procedimento, conhecido como viscossuplementação, envolve a injeção de ácido hialurônico na articulação do joelho para aliviar os sintomas.
Tratamento Cirúrgico:
- Técnica Paliativa: Envolve uma artroscopia do joelho para realizar a chamada “limpeza” da articulação, removendo tecido danificado e inflamado. Isso pode proporcionar alívio temporário dos sintomas.
- Técnica Restauradora: A microfratura é um exemplo, onde a cartilagem danificada é perfurada para estimular o crescimento de novo tecido cartilaginoso.
- Técnicas Reconstrutivas: Incluem procedimentos como a mosaicoplastia e o uso de biomembranas para reparar a cartilagem danificada.
- Transplante de Cartilagem: Pode ser autólogo (usando células do próprio paciente) ou alogênico (usando tecido de um doador).
- Osteotomia: Em alguns casos, pode ser necessário realinhar o osso para reduzir a pressão sobre a cartilagem danificada.
Recuperação e Prevenção
O período de recuperação após a cirurgia da cartilagem do joelho pode variar significativamente, com restrição total de peso nas primeiras semanas, seguida por fisioterapia progressiva e acompanhamento médico. O retorno às atividades esportivas deve ser gradual e cuidadosamente monitorado.
Para prevenir lesões na cartilagem do joelho, é fundamental manter a força muscular, realizar treinamento funcional e fortalecer o core. Também é importante proteger os joelhos ao praticar esportes que exercem carga excessiva sobre eles. Evitar aumentos bruscos no volume e na intensidade do treinamento é crucial para minimizar o risco de lesões.
Lembre-se sempre de consultar um médico ortopedista para avaliação e orientação adequada em caso de suspeita de lesão na cartilagem do joelho.
Nota Importante: Este artigo visa fornecer informações, mas não substitui a consulta médica. O diagnóstico de lesões e as opções de tratamento variam de pessoa para pessoa, dependendo de diversos fatores individuais. Portanto, é essencial consultar sempre um médico para orientação adequada. As informações fornecidas aqui não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou autotratamento.